STATEMENT (PT)

Sempre me encantei com as paisagens. A experiência diante delas me faz sentir algo que talvez, nem estando lá eu sentiria. Esse interesse por observar os espaços cotidianos através de novas perspectivas nasce do potencial que os sentidos possuem em nos guiar na leitura da realidade, nos permitindo expandi-la mesmo quando enfrentamos a sua versão mais assombrosa. Parafraseando a geografia de Milton Santos “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem (…) Não apenas formada de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons (...)”. E poder pensar nas paisagens como uma travessia é o que nos permite reconhecer que tudo está conectado. 

Quanto retomo minha infância no bairro de Águas Claras, uma das regiões periféricas de Salvador, percebo como a falta de contato com outras formas de natureza até então socialmente indisponíveis me atravessa, entendo como o desejo por novos lugares de existência que a construção de paisagens me oportuniza passa funcionar como ferramenta de trabalho, refúgio e forma de relação com meu próprio território. 

Antes de experimentar o estado de suspensão obtido pela fotografia aérea, explorei a paisagem pelo topo de alguns edifícios. O silêncio, a escala e a perspectiva são elementos compositivos que me permitem refletir sobre o quão estamos imersos em realidades (pré)fabricadas e como essa engenharia sócio-histórica nos retira a possibilidade de entendê-las de outras maneiras. É na tentativa de expandir tais realidades que passo a compreender as espessuras políticas e ficcionais envolvidas na construção desse trabalho. 

A minha relação com o litoral e com a água também vem da infância. O mar sempre foi a opção mais acessível à nossa família e ainda que essas memórias não sejam tão nítidas, me aproprio da sensação e do movimento das marés, que por sua impermanência e força me trazem algo muito familiar. Nesse sentido, produzir imagens que tensionam as diferenças e semelhanças entre espaço e natureza através da abstração do próprio território vivido me permite construir enigmas visuais que, fotograficamente, abrem o real para uma nova realidade.

STATEMENT (EN)

I have always been captivated by landscapes. They make me feel something that perhaps I would feel even if I wasn't there. This interest in observing everyday spaces from new perspectives is rooted in the potentiality of sense to guide us through a reading of reality, and allows us to develop it even when confronted by its most haunting form. To paraphrase the geography of Milton Santos, “Everything that we see, that our vision embraces, is the landscape (…) made up not only of volume, but also of colour, movement, scent, sound (...)”. And it is being able to conceive of landscapes as a crossing that enables us to realise everything is connected. 

When I look back on my childhood in the neighbourhood of Águas Claras, on the edges of Salvador, I see how the lack of contact with other forms of nature that were socially unavailable affected me. I realise how the desire for new places of existence that the construction of landscapes facilitates for me becomes a work tool, a haven, and a means of relating to my own territory. 

Before experiencing the state of suspension offered by aerial photography, I used to explore the landscape from the tops of buildings. Silence, scale and perspective are compositional elements that enable me to reflect on how we are immersed in (pre)fabricated realities, and on how such socio-historical engineering can rob us of the  ability to understand these in other ways. It is in attempting to develop such realities that I start to understand the political and fictional substance that is involved in the construction of this work. 

My relationship with the coast and with water also stems from childhood. The sea has always been within reach to our family and although my memories are hazy, I still carry within the sensation and tug of the tides, whose impermanence and power transmit something deeply familiar to me. In this sense, the production of images that flex the differences and similarities between space and nature through the abstraction of the living territory itself, allows me to build visual enigmas that, photographically, open up what is in fact real into a new reality.